Um conto sobre Cromoterapia.

Para falar sobre luzes e cores, vamos à Índia, conhecer um pouco mais sobre os dois grandes festivais hindus que lá acontecem todos os anos: o Festival de Diwali, cujo preparo e cuidados envolvem toda a população meses antes de acontecer, e o Festival de Holi, que começa suas atividades e organização na antevéspera da festa e se prolonga por todo o dia seguinte.

No Festival de Diwali, os indianos festejam a vitória das luzes sobre as trevas. Os preparativos para este dia são muitos, e já começam um mês antes, quando a população limpa, arruma e enfeita suas casas, ruas, lojas e templos com muitas luzes e guirlandas de flores. As mulheres vão às lojas para comprar lindos e coloridos sáris, que serão usados especialmente durante os ­festejos.

No dia de Diwali, logo cedo, as crianças, vestindo roupas novas e coloridas, vão batendo de porta em porta, oferecendo bandejas cheias de doces e especiarias feitos com muito carinho e esmero, e recebem pequenos regalos que os donos das casas preparam previamente; essa é uma forma de dar e receber as boas-vindas dos vizinhos. Nesse dia tão especial, a Índia se inunda de luzes, os indianos vestem suas melhores roupas e vão aos templos com toda a família para agradecer a Krishna pela vitória das luzes sobre as trevas. Na capital, Nova Déli, ao entardecer, o céu é inundado pelo brilho dos fogos de artifício, que duram horas, até as estrelas aparecerem para espiar o que está acontecendo. O povo sai às ruas para dançar, cantar e confraternizar. 




O outro grande e famoso festival que acontece na Índia é o Festival de Holi, que também tem como tema a comemoração da vitória das luzes sobre as trevas, mas sua maior homenagem é direcionada agora às cores. Ele tem início na noite anterior ao dia do festival, quando em toda a Índia são feitas enormes fogueiras para festejar e receber Holi, com suas cores fortes e vivas, cujos cânticos e danças em torno do fogo estendem-se noite adentro. Não podemos falar do Festival de Holi sem mencionar as alegres e divertidas brincadeiras e lançamentos de tinta e água sobre todas as pessoas que saem para a rua. Ao amanhecer, quando os indianos alegremente vestem as roupas mais velhas que possuem (pois sabem que serão pintados e molhados da cabeça aos pés), pegam seus potes de tinta e saem em grupos para iniciar a alegre brincadeira de jogar cores uns nos outros, gritando felizes: ­Happy Holi! Nesse dia, os adultos permitem que sua criança interior brinque solta e feliz, sem restrições e cuidados. 

Para os brasileiros, o Festival de Holi pode ser visto como um verdadeiro carnaval. Já o Festival de Diwali assemelha-se ao Natal cristão, quando, um mês antes, as pessoas enfeitam as casas com luzes coloridas, trocam presentes, vestem suas melhores roupas e vão aos templos para rezar e agradecer. 

Após todas essas lindas e ternas descrições, vamos dar uma espiadinha nos bastidores desses grandes festivais, cujos protagonistas são as luzes e as cores. Captei um conto durante uma meditação num Ashram na Índia, e compartilho aqui com ­vocês. 

Nossa história tem início quando, certa vez, as cores se reuniram dias antes de seu festival para organizar os detalhes e começarem os preparativos para sua festa. Foi então que elas se deram conta de que, para o Festival de Holi, poderiam simplesmente buscar muita lenha e fazer uma grande fogueira com apenas um ou dois dias de antecedência, e que no próprio dia da festa, sem muito envolvimento, seria possível arranjar alguns potes de tinta e roupas velhas. Concluíram, então, que apenas esses pequenos preparativos seriam mais do que o suficiente para terem uma festa para Holi. 




Enciumadas, começaram a estabelecer comparações entre as duas festas. Faltando ainda um mês ou mais para o Festival de Diwali, as pessoas já tinham começado a arrumar e limpar suas casas, a enfeitar as ruas e templos com luzes, as mulheres haviam comprado sáris novos, as crianças se comportavam e felizes brincavam com pequenas lanternas de luz, compradas pelos pais especialmente para aquele dia. Todas as famílias iam, lindas e perfumadas, para os templos, e organizavam mesas em suas casas, belamente decoradas para banquetes, para juntos festejarem e agradecerem a vitória das luzes sobre as trevas.

 E as cores, insatisfeitas e enciumadas, lembraram, ainda, que o Festival de Holi nem mesmo as homenageava, pois era mais uma vez festejada a vitória das luzes sobre as trevas. Cada vez mais irritadas, questionavam: por que não havia a vitória das cores? Por que os indianos, para o Festival de Holi, reservavam suas roupas mais velhas, não limpavam nem arrumavam suas casas ou as ruas? Até mesmo as lojas fechavam para não serem inundadas e sujas com os jatos de tinta e água. Por que não havia trocas de presentes? Apenas uma grande fogueira era acesa para alegria e deleite de todos, e quem mais brilhava e fazia a alegria dos indianos era a luz do fogo. Novamente, as luzes recebendo mais atenção do que as cores. 

Depois de catalogarem e anotarem todas as suas queixas, as cores foram em busca de Vishnu para apresentarem suas considerações e fazerem um pedido. Foram ouvidas e atendidas por Vishnu, que imaginava, entre divertido e curioso, como seria este Festival de Holi – já uma tradição milenar na Índia – transformado e adaptado segundo os pedidos das cores, que eram suas principais protagonistas, sendo suas reivindicações as seguintes:
Em primeiro lugar, todos os indianos teriam que iniciar os preparativos para Holi um mês antes e usar as tintas ao invés de jogá-las uns nos outros, pintando as casas, fachadas, alamedas, enfim, precisavam deixar tudo muito lindo e colorido. Em segundo lugar, para o dia do festival, todos deveriam ter roupas novas, coloridas e bonitas. Elas resolveram manter a fogueira, pois também gostavam de dançar e cantar ao redor do fogo. Para garantir que a festa seria somente das cores, pediram a Vishnu que mantivesse as luzes afastadas durante todo o festival, pois, se elas aparecessem, os indianos iriam se dividir em homenagens a elas também, e as cores queriam um festival somente delas. Vishnu, entre divertido e apreensivo, concordou com tudo. 

Chegou a antevéspera do Festival de Holi. As famílias ­indianas acenderam a tradicional fogueira, em cujas chamas se ­refletiam as cores, projetando nuances e intensificando a coloração das lindas roupas que usavam. Dançaram e cantaram ­felizes até a madrugada. Depois foram dormir, ansiosos pelo amanhecer, para recomeçarem o Festival de Holi oficialmente, agora com tudo já colorido e pintado, ruas e alamedas preparadas com ­antecedência. Iriam vestir suas roupas novas e coloridas, sairiam para as ruas lindamente decoradas e iriam ao templo orar e agradecer a Krishna pela vitória das cores sobre as trevas.

O dia estava amanhecendo, e nos bastidores desta história algo estava acontecendo. As cores acordaram assustadas. Onde estava o sol, que não aparecia no horizonte? E se ele não aparecesse, como iriam conseguir festejar e ver tudo que havia sido preparado? A maioria dos indianos permanecia adormecida, as trevas cobriam tudo. Desesperadas, as cores chamaram por Vishnu, que de longe assistia a tudo.
– Vishnu, faça o sol aparecer! Como poderemos festejar sem ter a luz do sol para ver tudo que preparamos? 
Vishnu respondeu:
– Não posso trazer o sol, pois ele sempre é acompanhado pelas luzes do dia, e vocês me pediram para manter as luzes ­afastadas. 
Nesse momento, as cores se deram conta de que elas só eram vistas e admiradas devido ao brilho dos raios de luz que gentilmente as iluminavam e refletiam suas lindas cores. Envergonhadas, pediram humildemente perdão às luzes e as ­convidaram para que, daquele dia em diante, sempre estivessem presentes e fizessem parte como convidadas de honra do Festival de Holi. 
Com esse conto, podemos concluir que, para fazermos a diferença no planeta, para brilharmos, não é necessário apagar a luz de nossos companheiros de caminhada, pois o sol sempre nasce e ilumina indiscriminadamente a todos.

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