Conto sobre Florafluidoterapia

Seus conhecimentos chegaram à corte, e muitas vezes ela
foi sigilosamente introduzida nos recintos do palácio para desenvolver seus
trabalhos de cura e magia – trabalhos estes que realizava com muita discrição e
humildade.
Seu arsenal de terapias incluía ervas para rejuvenescer,
para engravidar, para insônia, para impotência, para dores e problemas
gastrointestinais, tão comuns na época, devido à falta de higiene dos nobres
que circulavam e habitavam nos palácios.
Como a higiene do corpo não era um hábito diário, a
cigana criou, entre suas poções, as terapias com banhos de limpeza energética
com ramos de alecrim, banhos de descarrego com arruda, banhos de beleza com
flores de calêndula, banhos afrodisíacos com casca de canela e pétalas de rosas
vermelhas, e assim por diante. Desta forma, foi introduzindo na corte o hábito
de tomar banhos, mesmo que eles tivessem um propósito específico. O resultado
foi que os maus cheiros dos corpos sumiram e a energia perfumada dos ambientes
do palácio mudou a sua frequência vibracional.
Suas terapias foram ficando famosas, chamando a atenção
de alguns nobres escudeiros da corte. Um dia, ela foi chamada para tratar uma
ferida no ombro do Rei Artur, vindo de uma guerra com o reino vizinho. Pela
primeira vez, ela entrou pela porta principal, sendo acompanhada por seu gato,
com uma cesta cheia de ervas, poções e emplastos. Ao mesmo tempo em que fora
realizada uma elegante e discreta mesura frente ao monarca, seu gato saltou sem
cerimônias diretamente para o colo do rei. De imediato, a reação dos escudeiros
foi afastá-lo dali. Mas uma voz melodiosa e suave falou, com energia e comando.
Era a linda cigana orientando que deixassem o felino por alguns instantes feliz
e tranquilo acomodado nas pernas do rei Artur, no que ela foi explicando: “A
primeira limpeza de todo este processo infeccioso inicia-se pela retirada de
vibrações energéticas de fluidos densos, que envolvem nosso amado rei, formadas
por baixas frequências de invejas e ambição de domínio e poder. Tudo isso afeta
seu campo áurico, impedindo que vibrações de energia vital e cura sejam
trabalhadas. E os gatos têm o poder de realizar esta limpeza, ao mesmo tempo em
que mantêm afastadas as pragas trazidas pelas ratazanas. Recomendo a adoção de
gatos domésticos no palácio, para auxiliarem nesta limpeza física e
vibracional”.
Sem cerimônia, avançou na direção do trono, começando a
limpar e tratar a ferida purulenta no ombro do rei. Este sentiu imediatamente o
alívio de uma dor latejante que o vinha incomodando há várias semanas.
O monarca, agradecido, a convidou para sentar-se à mesa e
participar do banquete daquela noite. Quando no final da festa alguém cochichou
nos ouvidos de Artur que ela era uma exímia dançarina, este pediu que ela
dançasse para eles.
Sem se fazer de rogada, Aurora saltou para o centro da
sala e, sob os acordes dos violinos reais, dançou e encantou a todos. Todos,
menos as nobres senhoras que, enciumadas, viam os olhos de seus maridos e do
próprio rei encantados com a beleza, elasticidade, sensualidade e suavidade dos
movimentos de Aurora.
Um dos piores sentimentos que um coração pode acolher é o
da inveja e o ciúme que aflora por consequência. Essas mulheres buscaram,
junto aos nobres inquisidores, apoio para acusarem publicamente Aurora de ser
uma cigana, bruxa, que realizava feitiços e magias com ervas e plantas.
Aurora foi presa e
condenada a ser queimada na fogueira. O povo, que a conhecia e já usufruía há
muito tempo de seus cuidados e ajuda, acotovelou-se inconformado junto à praça
central, onde uma imensa fogueira foi preparada. Escondido no meio do povo,
encoberto por uma capa negra com forro de cetim lilás, estava o famoso Mago
Merlin, que muitas vezes havia recorrido a Aurora na busca por ervas medicinais
e plantas para a realização de remédios e poções. Merlin e Aurora eram velhos
conhecidos. No momento em que a carroça trazendo a cigana amarrada entrou na
praça, uma nuvem de poeira como um redemoinho começou a tomar conta de todos os
espaços. O povo se protegia como podia. Foi neste momento que uma imensa coruja
saiu da carroça, voando na direção do céu, que imediatamente voltou a ser azul
e tranquilo. Para a alegria do povo e do próprio rei Artur, que tudo observava
de uma janela do palácio, e não estava se sentindo muito feliz e confortável
com a condenação, a carroça estava vazia.
No dia seguinte, na
torre de laboratório alquímico de Merlin, bem instalada sobre uma escrivaninha
antiga, pousava uma linda coruja que, segundo contam, acompanhou o Mago por
muitos anos em seus trabalhos e terapias de cura. Para não ser reconhecida e
identificada pelos nobres da corte, saía à noite voando longas distâncias, indo
pousar junto à casa de quem estivesse necessitando. Devido a este costume, até
hoje, quando se vê uma coruja perto de casas ou em jardins, diz-se que é muito
bom agouro, pois trazem harmonia e cura, sumindo sempre na aurora do dia. E
ainda conta o folclore que onde as corujas costumam ficar, são locais propícios
para o cultivo de ervas e plantas medicinais.
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