Um conto sobre Cromoterapia
*Trecho retirado do livro Cromofluidoterapia, de Lígia Posser.
Para falar sobre luzes e cores, vamos à Índia, conhecer um pouco mais sobre os dois grandes festivais hindus que lá acontecem todos os anos: o Festival de Diwali, cujo preparo e cuidados envolvem toda a população meses antes de acontecer, e o Festival de Holi, que começa suas atividades e organização na antevéspera da festa e se prolonga por todo o dia seguinte.
No Festival de Diwali, os indianos festejam a
vitória das luzes sobre as trevas. Os preparativos para este dia são muitos, e
já começam um mês antes, quando a população limpa, arruma e enfeita suas casas,
ruas, lojas e templos com muitas luzes e guirlandas de flores. As mulheres vão
às lojas para comprar lindos e coloridos sáris, que serão usados especialmente
durante os festejos.
No dia de Diwali, logo cedo, as crianças,
vestindo roupas novas e coloridas, vão batendo de porta em porta, oferecendo
bandejas cheias de doces e especiarias feitos com muito carinho e esmero, e
recebem pequenos regalos que os donos das casas preparam previamente; essa é uma
forma de dar e receber as boas-vindas dos vizinhos. Neste dia tão especial, a
Índia se inunda de luzes, os indianos vestem suas melhores roupas e vão aos
templos com toda a família para agradecer a Krishna pela vitória das luzes
sobre as trevas. Na capital, Nova Déli, ao entardecer, o céu é inundado pelo
brilho dos fogos de artifício que duram horas, até as estrelas aparecerem para
espiar o que está acontecendo. O povo sai às ruas para dançar, cantar e
confraternizar.
O outro grande e famoso festival que acontece
na Índia é o Festival de Holi, que também tem como tema a comemoração da
vitória das luzes sobre as trevas, mas sua maior homenagem é direcionada agora
às cores. Ele tem início na noite
anterior ao dia do festival, quando em toda a Índia são feitas enormes
fogueiras para festejar e receber Holi, com suas cores fortes e vivas, cujos
cânticos e danças em torno do fogo estendem-se noite adentro. Não podemos falar
do Festival de Holi sem mencionar as alegres e divertidas brincadeiras e
lançamentos de tinta e água sobre todas as pessoas que saem para a rua. Ao
amanhecer, quando os indianos alegremente vestem as roupas mais velhas que
possuem (pois sabem que serão pintados e molhados da cabeça aos pés), pegam
seus potes de tinta e saem em grupos para iniciar a alegre brincadeira de jogar
cores uns nos outros gritando felizes:
Happy Holi! Neste dia, os
adultos permitem que sua criança interior brinque solta e feliz, sem restrições
e cuidados.
Para os brasileiros, o Festival de Holi pode
ser visto como um verdadeiro carnaval. Já o Festival de Diwali assemelha-se ao
Natal cristão, quando, um mês antes, as pessoas enfeitam as casas com luzes
coloridas, trocam presentes, vestem suas melhores roupas e vão aos templos para
rezar e agradecer.
Nossa história tem início quando, certa vez, as
cores se reuniram dias antes de seu
festival para organizar os detalhes e começarem os preparativos para sua festa.
Foi então que elas se deram conta de que, para o Festival de Holi, poderiam
simplesmente buscar muita lenha e fazer uma grande fogueira com apenas um ou
dois dias de antecedência, e que no próprio dia da festa, sem muito
envolvimento, seria possível arranjar alguns potes de tinta e roupas velhas.
Concluíram, então, que apenas esses pequenos preparativos seriam mais do que o
suficiente para terem uma festa para Holi.
Enciumadas, começaram a estabelecer comparações
entre as duas festas. Faltando ainda um mês ou mais para o Festival de Diwali,
as pessoas já tinham começado a arrumar e limpar suas casas, a enfeitar as ruas
e templos com luzes, as mulheres haviam comprado sáris novos, as crianças se
comportavam e felizes brincavam com pequenas lanternas de luz, compradas pelos
pais especialmente para aquele dia. Todas as famílias iam, lindas e perfumadas,
para os templos, e organizavam mesas em suas casas, belamente decoradas para
banquetes, para juntos festejarem e agradecerem a vitória das luzes sobre as
trevas.
E as
cores, insatisfeitas e enciumadas, lembraram, ainda, que o Festival de Holi nem
mesmo as homenageava, pois era mais uma vez festejada a vitória das luzes sobre as trevas. Cada vez mais
irritadas, questionavam: por que não havia a vitória das cores? Por que os indianos, para o Festival de Holi, reservavam
suas roupas mais velhas, não limpavam nem arrumavam suas casas ou as ruas? Até
mesmo as lojas fechavam para não serem inundadas e sujas com os jatos de tinta
e água. Por que não havia trocas de presentes? Apenas uma grande fogueira era
acesa para alegria e deleite de todos, e quem mais brilhava e fazia a alegria
dos indianos era a luz do fogo.
Novamente, as luzes recebendo mais
atenção do que as cores.
Depois de catalogarem e anotarem todas as suas
queixas, as cores foram em busca de Vishnu para apresentarem suas considerações
e fazerem um pedido. Foram ouvidas e atendidas por Vishnu, que imaginava, entre
divertido e curioso, como seria este Festival de Holi – já uma tradição milenar
na Índia – transformado e adaptado segundo os pedidos das cores, que eram suas
principais protagonistas, sendo suas reivindicações as seguintes:
Em primeiro lugar, todos os indianos teriam que
iniciar os preparativos para Holi um mês antes e usar as tintas ao invés de
jogá-las uns nos outros, pintando as casas, fachadas, alamedas, enfim,
precisavam deixar tudo muito lindo e colorido. Em segundo lugar, para o dia do
festival, todos deveriam ter roupas novas, coloridas e bonitas. Elas resolveram
manter a fogueira, pois também gostavam de dançar e cantar ao redor do fogo.
Para garantir que a festa seria somente das cores, pediram a Vishnu que
mantivesse as luzes afastadas durante todo o festival, pois, se elas
aparecessem, os indianos iriam se dividir em homenagens a elas também, e as
cores queriam um festival somente delas. Vishnu, entre divertido e apreensivo,
concordou com tudo.
Chegou a antevéspera do Festival de Holi. As
famílias indianas acenderam a tradicional fogueira, em cujas chamas se
refletiam as cores, projetando nuances e intensificando a coloração das lindas
roupas que usavam. Dançaram e cantaram felizes até a madrugada. Depois foram
dormir, ansiosos pelo amanhecer para recomeçarem o Festival de Holi
oficialmente, agora com tudo já colorido e pintado, ruas e alamedas preparadas
com antecedência. Iriam vestir suas roupas novas e coloridas, sairiam para as
ruas lindamente decoradas e iriam ao templo orar e agradecer a Krishna pela
vitória das cores sobre as trevas.
O dia estava amanhecendo, e nos bastidores
desta história algo estava acontecendo. As cores acordaram assustadas. Onde
estava o sol, que não aparecia no horizonte? E se ele não aparecesse, como
iriam conseguir festejar e ver tudo que havia sido preparado? A maioria dos
indianos permanecia adormecida, as trevas cobriam tudo. Desesperadas, as cores
chamaram por Vishnu, que de longe assistia a tudo.
– Vishnu, faça o sol aparecer! Como poderemos
festejar sem ter a luz do sol para ver tudo que preparamos?
Vishnu respondeu:
– Não posso trazer o sol, pois ele sempre é
acompanhado pelas luzes do dia, e vocês me pediram para manter as luzes
afastadas.
Neste momento, as cores se deram conta de que
elas só eram vistas e admiradas devido ao brilho dos raios de luz que
gentilmente as iluminavam e refletiam suas lindas cores. Envergonhadas, pediram
humildemente perdão às luzes e as convidaram para que, daquele dia em diante,
sempre estivessem presentes e fizessem parte como convidadas de honra do
Festival de Holi.
Com este conto, podemos concluir que, para
fazermos a diferença no planeta, para brilharmos, não é necessário apagar a luz
de nossos companheiros de caminhada, pois o sol sempre nasce e ilumina
indiscriminadamente a todos.
Comentários
Postar um comentário